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Exclusivo: Descendentes do escritor Graciliano Ramos moram em Arcoverde



Por Muriê Moares

Que o grande escritor alagoano Graciliano Ramos, autor de clássicos com Vidas Secas e São Bernardo, passou parte da infância na vizinha Buíque muita gente já sabia. Mas o que nosso blog apurou é que o Velho Garça tem descendentes diretos em Arcoverde.

 Eles moram na rua Antônio Moreno, no Alto Cardeal. Os vizinhos mal sabem. Gonzaga Silva é sobrinho neto de Graciliano. "Meu pai - Elias Quirino da Silva - era irmão do avô de Graciliano - Sebastião Ramos que nasceu em 1860 em Serra Talhada", diz Gonzaga que já visitou Quebrangulo e Palmeiras dos Índios, nesta última há o Museu Graciliano Ramos, casa em que o escritor morou. Gonzaga sabe de muitas histórias. "Nenhuma dessas histórias você encontra na Internet e nos livros, foi tudo que papai me contou, muito eu guardo de cabeça, outras coloco no papel", diz Gonzaga.

No papo que tivemos na sua casa, Gonzaga falou ainda da figura de Delmiro Gouveia. No lugarejo de Pedras(Alagoas) criou a Companhia Agro-Fabril Mercantil, indústria que fabricava linhas de coser(1914) e depois tecidos, atraindo muitos moradores para a região e trazendo o desenvolvimento. Aliás, Seu Elias comprava couro na região para que Delmiro exportasse. Mas estávamos alí para saber mais de Graciliano, Delmiro é assunto para outra matéria e olha que tem assunto.

No texto que fiz, há alguns anos para o extinto jornal Portal do Sertão(de Cláudio Castanha), começo falando da surra dada por Dona Maria Amélia, a fúria do Estado Novo. Faço um relato informal da passagem de Gracialiano por Buíque(1895 à 1900). O pai de Graciliano, Sebastião Ramos usou a experiência para abrir uma loja de tecidos em Quebrangulo. Três anos depois vendeu a loja e partiu  - com Graciliano(que já tinha 4 anos) e a filha Leonor que acabara de nascer - para o povoado que se chamava Vila Nova de Buíque, já desmembrado de Garanhuns. A conselho dos sogros, comprou a Fazenda Pintadinho(a 22 quilômetros da sede), nas imediações da Fazenda Maniçoba, de propriedade dos pais da mãe de Graciliano. O menino teve as primeiras lições com o pai e depois com Mocinha - irmã de Graciliano por parte de pai.

Além das tarefas normais na fazenda, Sebastião comercializava tecidos na rua transversal à Praça Major França. De acordo com o ex-prefeito João Godoy, o pai de Graciliano primeiro morou em uma casa na rua das Pedras, só depois é que a família comprou uma casa na rua do Cavalo(hoje Cleto Campelo). Nesta casa por muito tempo havia uma placa indicativa dizendo que ali morou Graciliano, mas gestores municipais não tiveram o cuidado histórico e a casa foi transformada em ponto comercial; ninguém nem tem notícia da dita placa. A Fazenda Pintadinho, de 500 hectares, hoje pertence à família do senhor Abílio Ferreira(na época da reportagem inicial Abílio tinha já 87 anos). Na ocasião, Seu Abílio informou que comprou a fazenda de Dona Olga Cursino e João Almeida(em 1967) por cento e cinquenta cruzeiros mostrando o quarto onde Graciliano dormia. Nas relembranças de Graciliano estão os pastos, os banhos no Açude Velho do Pintadinho. A seca, de novo, afugentou os Ramos dessa vez para Alagoas onde Graciliano passou parte da infância e adolescência.

De resto, todos sabem a carreira meteórica do escritor: chegou a ser prefeito de Palmeira dos Índios(1927 à 1930), ingressou no PCB e por sua ação é preso pela Polícia Política de Getúlio Vargas quando escreve Memórias do Cárcere. Graciliano foi um escritor de renome e respeitados por todas as correntes literárias. Mas era também um homem de opiniões firmes, nem sempre compreendido. Graciliano morreu no dia 20 de março de 1953 em decorrência de um câncer no pulmão.


 Confira os trechos do capítulo “A Vila” que faz parte do livro “Infância”:

“Buíque tinha a aparência de um corpo aleijado – o Largo da Feira formava o tronco; a Rua da Pedra e a Rua da Palha serviam de pernas, uma quase estirada, outra curva, dando um passo, galgando um monte; a Rua da Cruz, onde ficava o Cemitério Velho, constituía o braço único, levantando; e a cabeça era a Igreja, de torre fina, povoada de corujas. Nas Virilhas, a casa de Seu José Galvão resplandecia, com três fachadas cobertas de azulejos, origem do imenso prestígio dos meninos esquivos: Osório, taciturno, Cecília, enfezada, e D. Maria que procunciava “garrafa” na coxa esquerda, isto é, no começo da rua da Pedra, o Açude da Penha, cheio de música dos sapos, tingia-se de manchas verdes, no pé, em cima do morro, abria-se a cacimba da Inteligência....”



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