Exclusivo: Audiência Pública aponta soluções para revitalização do perímetro irrigado e pede que a Transposição chegue ao Poço da Cruz
Pouco aproveitamento da água do
reservatório, comportas quebradas, raízes de algaroba quebrando as paredes dos
canais, declínio das colônias de pescadores, diminuição de atividades dos
pequenos produtores e apicultuores, modelo de irrigação obsoleto, desperdício
de água, mata ciliar afetada, nem todos lotes dispõem de energia, peixamento
abaixo do nível e problemas com uso de agrotóxicos pela comunidade ribeirinha.
Esses e outros entraves, envolvendo o Perímetro Irrigado do Moxotó e do Açude
Poço da Cruz foram levantados durante Audiência Pública realizada pela Comissão
de Agricultura e Pecuária e Política Rural da Assembleia Legislativa atendendo
a proposição do deputado estadual Eduíno Brito. A audiência discutiu,
primordialmente encaminhamentos sobre o Ramal do Canal da Transposição do Rio
São Francisco para o Abastecimento do Açude Poço da Cruz e também a
revitalização dos Canais de Irrigação.
Estiveram presentes além de
Eduíno, o também deputado Valdemar Borges; o prefeito de Ibimirim, Adauto
Bodegão; o gerente Regional da Compesa, Augusto César; o representante do
Conselho Gestor do Reservatório do Poço da Cruz, Francisco Manoel; André Luiz
Cantanhede, representando a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado;
João Batsita, da Univale e os vereadores Merson Vieira, Duda, Sandra, Allan
Dellon, Ataíde da Água e Valmir da Banana.
Eduíno fez a saudação inicial aos
presentes e iniciou sua fala falando da seca centenária que sempre vai e volta.
“Hoje temos alguma chuva, mas a seca nos
ensina - ela vai e volta; precisamos fazer um enfrentamento sistemático a esse
problema. Quem não lembra que, na década de 80, Ibimirim era considerado um
verdadeiro ‘Eldorado’. Eu tinha um amigo na Ivel(Concessionária Fiat em
Arcoverde) que me dizia que vez por outra chegava alguém de Ibimirim para
comprar um carro zero quilômetro, tanta era a fartura. Infelizmente o quadro é
de abandono, a reestruturação e revitalização para o perímetro irrigado e obras de
manutenção do Açude Poço da Cruz(que chegou a ser alardeada há seis anos) na
verdade nunca saiu do papel. É urgente atender aos colonos e aos pequenos
produtores. Se não tivéssemos uma democracia incipiente, onde alguns gestores
não dão solução de continuidade e deixam de acompanhar os avanços por qualquer
motivo, talvez o Açude do Poço da Cruz e toda uma comunidade não estivesse
sofrendo”, afirmou Eduíno.
Já o vereador Merson estranhou o “esquecimento”
a que foi relegado Ibimirim. “Temos aqui desprazer de ver passar pertinho(a
menos de 20 quilômetros) um ramal do Canal da Transposição do São Francisco
levando água para outro Estado. Como explicar uma coisa dessa ao homem simples
do campo; a gente vê caminhões carregados de canoas - são pescadores saindo da
nossa área em busca da sobrevivência. Eram mais de 500 famílias que moravam às
margens do Açude. Sem falar nos pequenos produtores que ainda resistem não se
sabe como”, disse Merson.
Outro problema é como se dá a
irrigação nos lotes. “Esse modelo de irrigação por sulco está ultrapassado, é
do tempo da Mesopotâmia, o mais correto seria a irrigação por gotejamento –
como é feito em Israel. Naquele país há o detalhe que eles tratam a água do
esgoto e a reutilizam. Ainda tem a questão que desperdiçamos muita água, a cada
100 litros d’água usados apenas 20 litros fica no solo - 80 vai embora. Noutro
cálculo: em 144 dias irrigados, 576 litros são perdidos. Precisamos fazer um
recadastramento dos usuários, um geo-referenciamento do perímetro irrigado,
saber como anda o pagamento das taxas, a legalização da posse dos lotes e maior
capacitação para os produtores envolvidos”, afirmou o professor da Universidade
Federal Rural de Pernambuco, Luiz Calado que proferiu palestra na audiência.
Já o deputado Waldemar Borges
lembrou nuances do projeto inicial da Transposição. “Quando o então governador Miguel Arraes viu que o projeto inicial não
contemplava Pernambuco, então, ele reclamou e disse que assim não podia ser.
Arraes lutou e conseguiu inserir o Estado e Lula, por questão de justiça, tirou
do papel – isso devemos dizer. Precisamos também definir qual será nossa cota d’água
vinda da Transposição, fala-se em 6 metros cúbicos por segundo. Muita coisa
está adiantada, em meados de agosto a Transposição deve chegar ao Reservatório
de Copiti, daí deve-se jogar água no Moxotó e depois, consequentemente, no Poço
da Cruz. Essa irrigação do nosso perímetro deve ser de fato garantida pois é
preponderante para fazer ressurgir a economia de toda uma microrregião,
impactado ainda no comércio local e no avanço da produção de alimentos”,
disse Waldemar.
Para Sebastião Alves, da Serta, o
pleito de revitalizar o entorno do Poço da Cruz é sim possível. “Temos um
perímetro precisamos de reformas, mas temos ele organizado em alguns trechos,
temos um açude desse porte castigado pela seca mais ainda assim gigante, temos
uma escola que ensina agroecologia; acho que o que faltava chegou - a intenção
de pessoas sérias em debater e apontar soluções efetivas para o problema.
Também não se entende como é que a Transposição corta nossa estado de Norte a
Sul e jorra água na Paraíba deixando centenas de pernambucanos com tão pouco.
Outro problema são os esgotos(provenientes de residências) que caem direto no
Rio Moxotó”, afirmou Sebastião.
Um técnico ouvido por este site disse que se
poderia se instalar estações de tratamento de dejetos no trajeto do rio para
depois jogar a água limpa de volta ao rio. Uma fonte disse ainda que a gestão
anterior ao prefeito atual prometeu mas nunca cumpriu o projeto de instalar as
estações de tratamento.
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