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Arcoverde: Crônica para uma cidade acolhedora





Arcoverde, cidade linda coisa minha "meus amor"

Hoje(11.09.2017), com Arcoverde faltando 365 dias para chegar aos noventa anos, reescrevo crônica, veiculada recentemente numa revista da Capital, que fala um pouco do amor por esta terra acolhedora. Confiram:


Tomo emprestado as palavras do poeta João Silva - na música "Arcoverde meu" - para "manchetear" este artigo que fala um pouco da saudade dos tempos da não tão velha Arcoverde. Por que, quando vinha do Recife para visitar meus pais nas férias, via, da BR-232, as luzes de Arcoverde aparecendo e, na minha  mente, aparecia logo a canção do parceiro do Rei do Baião.

 Era também tempos de contracultura, de absorção nas seitas orientais, da paixão pelo rock e pelo jazz viagens por Salvador e outras paragens.  Nada disso, no entanto, efetivamente, nunca me afastou do amor que tenho por esta terra.

Mas paro, por aqui, a retórica para falar da memória afetiva que tenho por Arcoverde. Na verdade, nasci em Poço da Cruz(distrito de Ibimirim) e viemos para Arcoverde muito novos - eu, o irmão Cícero e a irmã Cléria(que recentemente nos deixou) para. Papai José Moraes era funcionário do DNOCS e Mamãe Anajás era professora em Inajá. Fizeram de tudo para nos educar. Estudei no Externato Silva Jardim(que ficava na Rua Barbosa Lima, comandado pela saudosa Luiza Herculano) e no Cardeal. Passei ainda pela Escola Carlos Rios e pelo Onze de Setembro.  Cléria passou pelo Colégio Imaculada e Cardeal.
Depois deixei o curso de Economia por Jornalismo(ambos na Unicap), enquanto Cléria fez Enfermagem na Federal. Cícero fez Letras na Aesa e é autodidata em muitos assuntos. Tempo depois "ganhei" outro irmão: Edson Moraes que foi bancário e hoje é respeitado pecuarista.

Na pré-adolescência, era também um "garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones" mas que colocava, no mesmo panteão, Jackson do Pandeiro, Marinês, Trio Nordestino, Luiz Gonzaga, Caetano, Gil e outros bambambãs da MPB. Era o que rolava nos "assustados" nas casas de Elísio Fita(pai da jornalista e colega Cristhiane Cordeiro-Kit).

Nas tardes de domingo, Papai me levava ao Estádio Souto Maior para ver jogos dos hoje extintos  Democrático, do Eutrópio Freire e do Guanabara. Escolhi torcer pelo Democrático, por ter as mesmas cores do meu Náutico e por admirar a raça de um centro avante chamado Raul Cursino. Gostava do jogo de Raul porque ele fazia gols de todo jeito - de joelho, de costas, de carrinho, no “bambo” como a garotada costuma dizer. A bola batia nele e entrava. Papai dizia que era sorte, mas eu achava que Raul tinha um pacto secreto com "espíritos de Luz" que jogavam nos "campos do senhor". Mas tinha também o atacante Pinheiro, jogador elegante e de boa visão de jogo, Didi da Celpe(meia armador) e Pinincha que dava grandes lançamentos e  que não “maltratava” a pelota.

Em Arcoverde conheci Murilo de Oliveira Lira, Giovanni Porto, José Rabelo de Vasconcelos, Dão(artista plástico), Noé do Bar, Jonas Morais, Roberto Morais, Ivo Lopes, João Pacheco, Evandro Valério, Antônia Lima, entre outros. Alguns desses ainda estão entre nós. Mas falta a cidade reverenciar com destaque os que fizeram a nossa história. 

Mas uma cidade não se faz só de personalidades. Arcoverde também teve suas figuras exóticas, como Mané Doido, Ingraciá, Murilo, Jarmelinda, Zuca - pessoas com problemas mentais, mas que faziam parte do nosso dia-a-dia. Naquele mundo surreal - com Ingraciá dizendo que tinha um iate no Caribe e Jarmelinda se fazendo de modelo internacional - ficávamos a nos perguntar: eram loucos eles ou nós com nossa "vidinha" normal?

Como esquecer o mecânico Eliezer que, na quinta-feira da Semana Santa, realizava no entorno do Senadinho um evento com direito a tapete vermelho, holofotes, champanhe, peru, presunto, uvas, panetone e outras iguarias para serem repartidas com meninos de rua mendigos? A "elite” de Arcoverde ficava tiririca com Eliezer, imagine desperdiçar um banquete com tais figuras....

Por fim, aplaudo as duas últimas gestões municipais que realizaram esforços para reabrir o Cine Rio Branco, embora não preservando as linhas arquitetônicas da fachada. Já o grandioso Cine Bandeirante, na Praça da Bandeira, coitado, não teve a mesma sorte: foi transformado em supermercado, loja de material de construção, mini-shopping e por fim hoje é "apenas" uma loja de departamentos na versão "mix". De quem foi a culpa de tal absurdo? A sanha do progresso ou a falta de visão dos homens públicos? Ninguém sabe.

Como diz o famoso personagem de Ariano Suassuna: "só sei que foi assim"
Essa é minha Arcoverde: um baú que guarda a memória dos mais humildes e as imagens esmaecidas que muitos desprezam por não ressaltar honrarias e comendas ou simplesmente por "nostalgia" ser algo fora de moda.



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