Exclusivo/Banalização da vida: A literatura do escapismo e da auto-ajuda virtual inversa na vida dos adolescentes
Acontecimentos que chocaram toda uma microrregião nos levam a refletir sobre a profusão da literatura do escapismo, primordialmente com o auxílio nada luxuoso da Internet, no meio dos adolescentes que, no desespero do que eles chama de “vida-vazia”, se apegam a meros manuais de auto-ajuda inversa. O pano de fundo para esta “febre” está a depressão - sentimento de prostração ante a problemas familiares, no círculo de amizades ou até de paixões mal resolvidas.
A literatura do escapismo entra aqui como poderoso aliado aos grupos de Whatsapp e Facebook(redes sociais) que permeiam o dia-a-dia dos adolescentes. Até agora, não se sabe se os diretores dessas empresas fizeram(ou vão fazer) quanto a essa grave questão. Outro público alvo são idosos solitários que já dominam toques básicos de computação, casos de auto-mutilação podem ter ocorrido em países da Ásia embora as autoridades ainda investiguem as circunstâncias.
Livros, cujos direitos até já foram comprados por companhias de cinema e plataforma de streming, falam de grupos de Whatsapp que reúnem adolescentes dispostos a discutir cenários de depressão em que vivem ou mesmo abordarem práticas que os levem a atos extremos contra à própria vida. Será que a intenção desses autores e cineastas é mesmo ajudar? O pior é que, essa é a impressão, que quanto mais se divulga algo que não se conhece se planta dúvidas. Podemos dizer que chegamos a “banalização” do direito de se viver. Todas as religiões, ou a maioria delas, se opõem a tal radicalismo pessoal.
Por exemplo, no Judaísmo, quem o pratica, é até proibido de ser sepultado numa mesma área dos que tiveram morte natural O Judaísmo considera o suicídio um crime tão grave quanto o assassinato. Na doutrina Judaica está o ensinamento de que nenhum ser humano é dono do seu próprio corpo, pois ele não se fez sozinho. Quando se fere o corpo ou a alma, comete-se uma ofensa contra a obra e a propriedade divinas. O Criador dá a vida e somente o Criador tem o direito de tirar a vida. Por este motivo, alguns dos ritos tradicionalmente incluídos na cerimônia de sepultamento são negados ao suicida - e ele é enterrado numa parte do cemitério afastada dos outros túmulos. Mas, entretanto, há opinião divergente: o suicida, no momento decisivo, não estava de posse de suas faculdades mentais, ele agiu inconscientemente. Portanto, não deve haver discriminação no sepultamento.
Um breve olhar da Psicologia
Entre os fatores de risco associados com o suicídio estão: transtornos mentais, como depressão, bipolaridade, esquizofrenia; situações como isolamento ou vulnerabilidade social, desemprego, migrantes; questões psicológicas, como perdas recentes, problemas na dinâmica familiar; e condições clínicas incapacitantes, como lesões desfigurantes, dor crônica e câncer. Por outro lado, o uso de drogas, principalmente cocaína e álcool, aumenta a impulsividade e, com isso, o risco de suicídio.
Como você pode ver, este escopo é tão amplo que praticamente qualquer pessoa poderia se encaixar em uma destas situações na vida. Por isto não se justifica olhar o suicida como um doente: ele pode ser apenas alguém cuja angústia encontrou um limite que considera intransponível. Para além deste limite, perde-se a capacidade de raciocinar objetivamente.
E é bem provável que o ato suicida não implique num desejo de acabar com a vida, mas na intenção de fazer parar a dor que não se pode suportar. Sendo uma forma extrema de comunicar a solidão do sofrimento aos outros, é sempre um tardio pedido de ajuda. Para os parentes e pessoas próximas, além do choque, ficam os sentimentos de culpa, tristeza, raiva e até vergonha – é como se todo o ambiente social daquela pessoa tivesse falhado. Por isto tudo, é muito importante falar sobre o tema, e acabar de uma vez com o tabu que o cerca; o suicídio é uma morte evitável, se e estivermos atentos.
Um breve olhar da Psicanálise
No artigo de Marcos Vinicius Brunhari e Vinicius Anciães Darriba - “Não te matarás: suicídio, prevenção e psicanálise” - a vítima do suicídio deve ser protegida de um algoz que não a habita. É por posicionar aquele que comete suicídio como vítima que se abre a possibilidade de querer saber como evitar que se acessem meios e que se corram riscos. Entretanto, não se questiona a causa, não se quer saber disso.
É nesse ponto que se localiza o impasse que permite uma discussão com a Psicanálise. A partir das afirmações de Sigmund Freud em seu texto “Mal-estar na civilização” (1930 [1929]) em referência ao mandamento “Amarás teu próximo como a ti mesmo” e à negação da agressividade que esse mandamento supõe, inicia-se a discussão acerca do impedimento “Não te matarás” como negação da mesma agressividade. Será com Jacques Lacan, em seu “Seminário, livro 7: a ética da psicanálise” (1959-60), que esta negação será pensada como um recuo diante do gozo.
No último parágrafo do artigo os autores dizem: A psicanálise possibilita pensar isso que escapa à prevenção. É pelo repúdio de Freud ao mandamento de amar o próximo que seguimos uma via. Nela, o mandamento “Não matarás”, bem como “Não te matarás” nega o mal que habita intimamente, sendo incapaz de impedir sua existência. O bem se encontra aí no máximo de sua função. Uma via cruel, segundo Lacan, na qual o bem do outro supõe a supressão de sua alteridade radical e que dispõe o bem como uma barreira para não se saber daquilo que está além. É nesse sentido que perfila a ideia de que aquele que se mata não quer morrer. É uma ideia que funciona como lacre sobre um ponto no qual apenas o sobrevivente pode vir a dizer algo, mas que não se faz escutar.
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