*Coluna do Chico Carlos: Brigas e vaidades destruíram a carreira do Creedence Clearwater Revival
Conviver em qualquer grupo social não é uma tarefa da fácil. Seja ele político, religioso, cultural, enfim, as paixões e vaidades são “ervas daninhas” nos relacionamentos. Quem tem banda musical sabe que o relacionamento dos integrantes se torna um verdadeiro casamento, com toda rotina de estresse, ensaios, viagens e divergências de opinião. O pior é que algumas dessas bandas acabam tendo o mesmo fim que muitos casamentos também tem, o divórcio. E nem sempre o divórcio é amigável. Isso mesmo vai parar na esfera judicial. Mas não é sempre que a separação acontece, em alguns casos uma briga, faz até bem para o processo criativo de seus membros. Já em outros, não tem jeito mesmo, a separação é a única saída para eles não arrancarem pedaços ou se matarem.
Vamos a um exemplo: o Creedence Clearwater Revival existiu entre 1967 e 1972, período em que lançou sete álbuns e obteve grande sucesso com ao menos três deles: “Green River” (1969), “Willy and the Poor Boys” (1969) e “Cosmo’s Factory” (1970). E tudo começou na escola. Em setembro de 1959, John Fogerty (vocalista e guitarrista), Doug Clifford (bateria) e Stu Cook (baixo), ainda adolescentes, formam o The Blue Velvets. Dois meses mais tarde, Tom Fogerty (guitarrista), irmão mais velho de John, entra no grupo como cantor, mudando o nome da banda para Tommy Fogerty and The Blue Velvets. O nome do grupo muda para The Golliwogs em 1964, após assinarem contrato com a gravadora Fantasy Records, onde John trabalhava. Nos três anos seguintes alguns compactos foram lançados, fazendo grande sucesso local.
Em 24 de dezembro de 1967, sob a influência de Saul Zaentz, novo dono da Fantasy Records, eles decidem então se tornarem profissionais. Começando pelo nome que faria história no mundo do rock: um amigo de Tom chamado Credence Nuball, um comercial da cerveja "Clearwater" e Revival, simbolizando a união do grupo, serviram de inspiração. A banda vem então com um novo estilo de música, definido por John Fogerty que, como cantor e compositor, passou a ser o centro da banda.
O Creedence lançou sete álbuns em apenas cinco anos de existência (1967 a 1972). O primeiro aconteceu em julho de 1968 com o nome de Creedence Clearwater Revival, e já dá ao grupo um disco de ouro. O último álbum, Mardi Gras, foi lançado em abril de 1972, que também ganha disco de ouro. A obra mostrou que o grupo está próximo da separação, com Stu Cook e Doug Clifford compondo algumas das canções (até então John Fogerty era quem compunha a maioria das canções da banda). A banda começou a desmoronar ainda em 1971, quando o já falecido guitarrista Tom Fogerty, irmão do vocalista John Fogerty, deixou a banda.
Em 16 de outubro de 1971, a gravadora Fantasy Records anuncia oficialmente o fim de Creedence Clearwater Revival. Todavia, a novela não terminou. Ficaram marcas, acusações e insultos que deixaram os fãs perplexos. John permaneceu brigado com os demais músicos, a ponto de ter se recusado a tocar com Cook e o baterista Doug Clifford quando o grupo foi introduzido ao Rock and Roll Hall of Fame, em 1993. Fogerty chegou a processar a dupla pelo uso do nome, mas eles acabaram conquistando o direito da nova marca na justiça: Creedence Clearwater Revisited. Agora, parece que a situação entre os três está um pouco mais amena. "Não estamos mais nos atacando. Estamos focados em coisas boas sobre o Creedence - é o que acho que devemos fazer", afirmou Stu Cook, à Billboard.
Como sinal de trégua, o trio está trabalhando junto para comercializar o material antigo do Creedence Clearwater Revival. Um dos projetos que finalmente deve chegar a público é a gravação do show do grupo no lendário festival de Woodstock, no ano de 1969. Ao longo da carreira, entre singles e álbuns, eles conquistaram nove discos de ouro e sete discos de platina, rendendo mais de 26 milhões de discos vendidos apenas nos EUA. Além da nova parceria - comercial, já que não há planos para que eles voltem a tocar juntos -, ficou estabelecido que Cook e Clifford encerrem o nome Creedence Clearwater Revisited.
Há quase 50 anos após a dissolução, a música do Creedence Clearwater Revival continua a ser a base da história da música americana, e é frequentemente citado ou incluído no rádio e na mídia como influências de outros músicos. Considerada uma das melhores bandas da história. Foi um acústico inigualável, vigoroso e espetacular. Mas quem é fã de verdade nunca perde a esperança de ter seus ídolos juntos novamente. Talvez um sonho, ou mesmo uma ilusão, por conta da fogueira das vaidades de seus integrantes.
Chico Carlos é crítico musical e escreve regularmente com exclusividade para este site.
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