Chico Carlos pergunta: Forrozeiros e "breganejos" quem tem razão?
O São João chegou ao fim, mas a
polêmica continua. Nosso colunista musical Chico Carlos esmiúça as nuances
desse debate. Confira
Forrozeiros e breganejos quem tem razão?
Por Chico Carlos
A
polêmica em torno das declarações de cantores de forró pé de serra sobre a participação do breganejo em festas juninas como
é o caso do São João de Caruaru, Gravatá, Arcoverde e Campina Grande.
A
cantora Elba Ramalho, paraibana de Conceição de Piancó, botou a “boca no
trombone” sobre a maneira como ela encara essa mistura que vem sendo feita há
anos nas programações das cidades nordestinas, e que segundo a cantora, vem
ocupando o lugar de artistas consagrados do Nordeste. As declarações ganharam
as redes sociais e foi amplamente divulgado em outros meios de comunicação como
rádio e TV.
Quem também “detonou” foi Alcimar Monteiro. Segundo ele, em declaração referente à cantora Marília Mendonça: “Sua música é horrorosa! Você não está com nada, entendeu? Você canta para cachaceiro. Eu canto para família, para as crianças, para os velhos, eu sou descendente de Luiz Gonzaga. Nos respeite, entendeu? Não fale mal de Elba Ramalho, que você não tem autoridade para isso, entendeu? Deixa a gente em paz, vão se danar”. Pegou pesado. Mas, a “sertaneja” goiana Marília Mendonça, não ficou calada e disparou em um show em São Paulo: “Vai ter sertanejo, sim, viu? Porque quem quer é o público”, respondeu tirando onda, acrescentando: “Sei que vocês gostam mesmo é de música boa. Não importa o estilo”, garantiu. Aí o caldeirão ferveu.
Elba Ramalho justificou-se “Não se pode desunir o país, mas é preciso pensar em grades mais balanceadas, onde o Nordeste e os artistas nordestinos não fiquem acuados. Talvez quando eu sair desse mundo, as pessoas percebam que não deveríamos viver o conflito, mas valorizar o amor e o afeto. Quando falei sobre a questão, minha intenção foi ajudar a promover uma reflexão”, pontuou a paraibana.
O debate em torno do São João gerou movimentos como o Devolva Meu São João e Somos o Forró. A mercantilização da festa parece um problema inevitável. Por exemplo: uma Prefeitura recebe patrocínio de uma cervejaria poderosa e contrata os artistas que quer. A cultura local muita vezes é, tratada com desprezo e desrespeito. Bem que as prefeituras poderiam dar prioridade às ‘pratas da casa’, ao verdadeiro forró, valorizando os artistas da terra, no entanto, a questão não é politica, e sim econômica.
Na verdade, a questão não é do cantor que vem se apresentar aqui no Nordeste nos festejos juninos. Eles estão na Mídia o tempo todo. Vale ressaltar que o poder econômico de empresas e de seus empresários impõem as regras do mercado musical da atualidade. Além disso, os aqueles que contratam esses cantores e cantoras não entendem nada, principalmente, de cultura nordestina, da musicalidade do forró, xote, baião e outros ritmos da região. As contratações são absurdas, cujos cachês estão acima dos R$ 200 mil.
No São
João, ao invés do forró pé de serra, com nomes consagrados como Alcimar
Monteiro, Jorge de Altinho, Novinho da Paraíba, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo,
Flávio Leandro, Flávio José, Santana, Maciel Melo, entre outros, contratam
cantores dos estilos brega e “sertanejo universitário do Sudeste”, para
ocuparem a grade de programação. Tem muita coisa errada.
Uns
dizem que os gestores municipais são culpados pela falta de capacidade e de
sensibilidade na escolha do secretário de cultura. Será? Particularmente, não
acredito. Tudo é um jogo de encenação. Gestores e e assessores, em geral, jogam
no mesmo time que vai contra a cultura propriamente dita. Os favores de
lideranças falam mais alto do que competência. No período junino não é diferente.
Há, também, os aspones oficialescos que dizem entender de cultura mas que, na verdade, não sabem nem o que é cultura, nunca pegaram um livro para estudar a cultura de sua terra ou região.
Há, também, os aspones oficialescos que dizem entender de cultura mas que, na verdade, não sabem nem o que é cultura, nunca pegaram um livro para estudar a cultura de sua terra ou região.
Não
somos contrários aos cantores bregas ou sertanejos que também invadem as
programações carnavalescas. Há espaços para todos em seus devidos momentos.
Defendemos a boa música, com a realização de apresentações musicais as mais
variadas em semanas culturais ou festivais de música (inverno, verão, festa da
padroeira, etc). Cada dia há uma
apresentação de um estilo musical. Seja um dia Rock, outro MPB, depois Samba, Sertanejo,
Brega, e dai segue a “lista dos desejos”. Com isso, atende-se todos os movimentos, tribos, grupos e públicos. Entendemos que dentro dos festejos
juninos e do Carnaval essa “invasão” por conta da força do poder econômico em
cima do poder político é descarada e cínica. O resto é ‘secos & molhados’!
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