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O tribunal das redes sociais e o caso de Fábio Assunção




Muito interessante este texto. Só discordo quando, no segundo parágrafo, o autor diz que Arcoverde tem um “cotidiano sem atrativos e que é uma cidade relativamente pequena”. Confiram:

O tribunal das redes sociais e o caso de Fábio Assunção

Por Adriano Pádua

O território sem limites das redes sociais alimentado por promotores da desgraça alheia acaba de fazer mais uma vítima: o ator Fábio Assunção. Nesse tribunal virtual da opinião pública o sucesso incomoda e a regra é o compartilhamento da tragédia em todas as suas faces, principalmente quando se trata de denegrir a imagem de um artista de reconhecimento nacional.

Nesse caso, os juizes amadores e seus celulares potentes aproveitaram-se da fragilidade do ator por estar embriagado e sem condições de se defender. Some-se a isso o cotidiano sem atrativos de uma cidade relativamente pequena como Arcoverde - a quatro horas do Recife - em que os fatos negativos da vida alheia valem mais do que qualquer mérito.

Fábio Assunção foi para Arcoverde lançar o seu documentário sobre o grupo Coco Raízes daquela cidade em pleno auge da festa junina. Não se viu nas redes sociais nenhuma multiplicação de vídeos sobre o lançamento do documentário. Não se viu exaltação nenhuma do belo registro da cultura local. Todos os celulares se voltaram para a situação difícil em que o ator passou ao ser abordado e detido por policiais.

Pra quem tem bom senso é constrangedor ver a celebração com vídeos e áudios de uma cena triste de um ser humano como qualquer outro sendo tratado daquela maneira. É deprimente ver a condenação de um profissional por ter bebido além da conta. Trata-se de uma das faces mais cruéis e atuais da estupidez humana: a de celebrar a tragédia alheia nas redes sociais alimentada principalmente pelo fato do alvo ser uma figura pública.

A vida privada do outro é sempre elevada ao grau da notoriedade somente quando se trata de algo negativo. O sucesso, a vitória, o talento. Tudo isso não faz sentido para o tribunal da opinião pública real e digital. Somente a tragédia vale para essa gente que não se respeita.

Quando estiverem diante do espelho poderiam se perguntar se registrariam todas as cenas do ator se fosse um filho, uma filha, um pai ou um grande amigo que estivesse naquela situação. Protegeriam todos os seus parentes. Defenderiam. Impediriam que alguém o fizesse. No caso do ator, faltou ser humano o suficiente pra protegê-lo da mesma forma.

Não se trata aqui de defender comportamentos considerados errados que o ator possa ter cometido ou não. Trata-se de se surpreender com a certeza de que o ser humano regrediu em toda a sua capacidade de ser solidário com o outro. E muito pior: com a certeza de que a desgraça alheia estará sempre acima dos outros interesses, ofuscando as virtudes, o sucesso e o talento. Transformando a sociedade no circo dos horrores alçado a expressão máxima no tribunal da opinião pública das redes sociais.



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