Header Ads

Coluna do Chico Carlos - Eternamente Beth Carvalho: A madrinha do samba de raiz do Rio de Janeiro

"Ela botou muita gente lá em cima. Eu costumo brincar, dizer que sou só um compositor e virei Zeca Pagodinho por causa da Beth. Meu negócio era compor. Ela me pôs pra gravar Camarão Que Dorme A Onda Leva com ela e virei esse Zeca Pagodinho que o Brasil hoje aplaude”, disse o cantor e compositor Zeca Pagodinho, um dos sambistas alçados ao sucesso pelas mãos de Beth, que lançou Pagodinho em 1983. Zeca contou que falava com Beth pelo telefone, mas não teve coragem de visitá-la durante a enfermidade.

O depoimento de Pagodinho é sinônimo eterna gratidão, amizade e de respeito por Elizabeth Santos Leal de Carvalho, mais conhecida como Beth Carvalho, cantora e compositora brasileira de samba. Beth Carvalho morreu às 17h33 de terça-feira, dia 30 de abril, no Hospital Pró-Cardíaco, também no bairro de Botafogo, onde estava internada desde 8 de janeiro. A artista foi vítima de infecção generalizada (septicemia), segundo nota divulgada pela unidade de saúde. Havia mais de dez anos que a cantora sofria de dores na coluna. Ela chegou a fazer cirurgias, mas o problema persistiu. No ano passado, Beth fez um show em parceria com o grupo Fundo de Quintal deitada em um sofá.

A "Madrinha do Samba" sabia das coisas. Era muito querida no universo da MPB e, sobretudo, no samba. Genuína em suas interpretações e desde que começou a fazer sucesso, na década de 1970, Beth se tornou uma das maiores intérpretes do gênero, ajudando a revelar nomes como Luiz Carlos da Vila, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, o grupo Fundo de Quintal e Arlindo Cruz. Ela deixou um legado extraordinário, descobriu e deu oportunidade para muitas cantores e compositores. Foi uma guerreira, uma pessoa que venceu muitos tabus, machismo e mostrou para que veio.

A carreira de Beth Carvalho começou na bossa nova. No início de 1968 participou no movimento Musicanossa. Os shows eram realizados no Teatro Santa Rosa, em Ipanema, onde teve a oportunidade de gravar uma das suas canções "O Som e o Tempo", no longplay do Musicanossa. Nesta época ela gravou com o cantor Taiguara, pela gravadora Emi-Odeon.

Em 1965, gravou o seu primeiro compacto simples com a música Por Quem Morreu de Amor, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Em 1966, já envolvida com o samba, participou do show A Hora e a Vez do Samba, ao lado de Nelson Sargento e Noca da Portela. Vieram os festivais e Beth participou de quase todos: Festival Internacional da Canção (FIC), Festival Universitário, Brasil Canta no Rio, entre outros.

No FIC de 1968, conquistou o 3º lugar com Andança, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, e ficou conhecida em todo o país. Além de seu primeiro grande sucesso, Andança é o título de seu primeiro LP lançado no ano seguinte. A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano e se tornou sucesso de vendas, emplacando vários sucessos como 1.800 Colinas, Saco de Feijão, Olho por Olho, Coisinha do Pai, Firme e Forte, Vou Festejar, Acreditar, Mas Quem Disse que Eu te Esqueço. Beth Carvalho ficou reconhecida por resgatar e revelar músicos e compositores do samba. Tinha sensibilidade à flor da pele. Em 1972, buscou Nelson Cavaquinho para a gravação de Folhas Secas e em 1975 fez o mesmo com Cartola, ao lançar As Rosas Não Falam.

Conheceu a “fonte da fertilidade” dos compositores que tinha o cheiro do povo e, mais do que isso, conheceu os lugares onde estavam, onde viviam, onde cantavam e tocavam. Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles os do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, Beth Carvalho revelou artistas como o grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luis Carlos da Vila, Jorge Aragão e muitos outros.

Por essa característica, Beth ganhou o apelido carinhoso de "Madrinha do Samba". Mais do que isso, a cantora trouxe um novo som ao samba, porque introduziu em seus shows e discos instrumentos como o banjo com afinação de cavaquinho, o tantã e o repique de mão, que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do Cacique. Musicalidade e sonoridade notáveis.

“Já me fiz a guerra por não saber / Que esta terra encerra o meu bem querer / E jamais termina meu caminhar / Só o amor me ensina onde vou chegar”, dizem os versos do “Andança”, seu primeiro grande sucesso. Pois muito bem: a Madrinha do Samba marcou a sua vida pela generosidade, de amor e na trincheira de luta.

Viva, Beth Carvalho! Obrigado, Madrinha!.

Nenhum comentário