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*Eraldo Galindo nos fala de Khalil Gibran, uma voz do Líbano

Há livros e escritores que nos instruem intelectualmente com suas ideias, imagens e enredos: estes são úteis. Há outros que nos falam ao coração: estes são essenciais. Nesta segunda vertente de confecção de palavras que nos elevam a alma, está Gibran, o poeta do Líbano. Sua obra nos ajuda na ampliação da visão da vida e dos horizontes do coração.

Gibran Kahlil Gibran nasceu em 1883, em Becharre, nas montanhas do Líbano. Viveu parte da sua vida como emigrado nos Estados Unidos. Estudou no Colégio da Sabedoria, em Beirute, mas foi em Boston (EUA) que conheceu destaque nos círculos literários da época, chamando especial atenção do mundo árabe por seu estilo vibrante, original, cheio de música, imagens e símbolos.

Paralelamente à escrita literária, cultivou o desenho e a pintura, áreas artísticas aprimoradas em Paris, onde travou conhecimento com Auguste Rodin. De volta aos EUA, passou a viver em Nova York, onde reúne em torno de si escritores libaneses e sírios que, escrevendo em árabe, têm o propósito de renovar a literatura oriental.

Morreu em 1931 em Nova York, tendo o corpo transladado para o Líbano, sua terra, da qual dissera: “Se o Líbano não fosse minha pátria, eu escolheria o Líbano como pátria minha”.

Gibran se destacou como escritor de cunho filosófico-existencial, além de poeta, desenhista e pintor. Para milhões de leitores e seguidores do seu pensamento, se tornou uma forte referência, apelidado de “o profeta do coração”.

Dos seus escritos transborda uma mensagem reflexiva sobre os meandros da existência humana: amor e ódio, dor e serenidade, confiança e incerteza, companheirismo e solidão, palavra e silêncio, guerra e paz, busca de sentido para a vida, desencontros e reencontros, dúvida e fé: elementos temáticos caros à sua obra. Sobre esses aspectos da vida humana, Gibran construiu uma escrita literária encantadora, de refinada sensibilidade estética e profundo teor filosófico.

Sua obra e sua vida se confundem. O homem, o escritor, o pintor e o poeta são faces múltiplas de uma figura notável e singular, uma personalidade que manteve ao longo da existência uma atitude de superior autonomia e liberdade face aos poderes estabelecidos, aos modismos comportamentais e artísticos e às ideologias em voga.

A partir de suas ideias e valores, Gibran fala ao mundo contemporâneo, tão marcado pela cultura do progresso cego e antiecológico, pela busca alucinada da riqueza, do prestígio e do poder a todo custo. Gibran serve de bússola a valores humanos fundamentais, bem como de crítica ao mundo materializado que despreza a dimensão da espiritualidade (não religiosa, mas ética e humanitária). O poeta do Líbano nos lembra o sentido da vida como busca da felicidade na brandura, na justiça e na fraternidade.

Gibran é um livre-pensador, que verte em linguagem poética reflexões certeiras sobre o sentido e a finalidade da existência humana. Seus pensamentos tomam por objeto de análise e contemplação o ser humano e sua realidade como ser corporal (social, histórico, político) e ser espiritual (aberto à transcendência). Daí a atualidade e universalidade deste autor e pensador que perscruta a vida e o coração dos homens com olhos de águia.

Sua obra pode ser dividida em quatro fases distintas, que correspondem a facetas do poeta e filósofo: a) Romântica: "A música, Uma Lágrima e Um Sorriso, As Procissões, Curiosidades e Belezas"; b) Revolucionária: "As Ninfas do Vale, Almas Rebeldes, Asas Partidas, Temporais"; c) Filosófica: "O Precursor, O Louco, Os Deuses da Terra, O Errante"; d) Sábia: "O Profeta, Areia e Espuma, O Jardim do Profeta, Jesus: o Filho do Homem".

Por fim, eis uma listagem resumida dos seus melhores pensamentos:

*“O desejo é a metade da vida, a indiferença é a metade da morte”.

*“Não podemos atingir a aurora sem passar pela noite.”

*“Quando um de nós ama, que não diga: ‘Deus está em meu coração’, mas que diga antes: ‘Eu estou no coração de Deus’.”

*“Vossos filhos não são vossos filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não são de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.”

*“Vós pouco dais quando dais de vossas posses; é quando dais de vós próprios que realmente dais.”

*“Se quiserdes conhecer a Deus, não procureis transformar-vos em decifradores de enigmas. Olhai, antes, à vossa volta e encontrá-lo-eis a brincar com vossos filhos. E erguei os olhos para o espaço e vê-lo-eis caminhando nas nuvens, estendendo os braços no relâmpago e descendo na chuva. E o vereis sorrindo nas flores e agitando as mãos nas árvores.”

Que a obra de Gibran continue a iluminar nossos olhos, educar nossos sentidos, tocar nossa alma!

°Eraldo Galindo é professor universitário com Mestrado pela UFPE.

2 comentários:

  1. Na época da adolescência li "O PROFETA", desse excelente escritor Gibran. Amei a leitura. Foi emprestado por um amigo. Depois que li essa matéria decidi procurar adquirir aquele livro e outras obras desse poeta e filósofo, para conhecer o melhor. Obrigado professor Eraldo, pela dica e Muriê, pela publicação de tão importante matéria.

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  2. Obrigado, amigo Paulo Tarciso. Gibran é um mestre da sensibilidade. Viva a boa literatura!

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