Exclusivo: Antônio “Caiçara” - um exemplo de perseverança que orgulha os sertanejos
Em nossa estreia de "Histórias de sucesso" enfocamos a figura do fundador do Grupo Pajeú. Confira:
Empresário é
visto como um desbravador em seu setor de atuação
Por Muriê Moraes
Se a máxima
“o sertanejo é antes de tudo um forte”,
a frase caí como uma luva para descrever Antônio Alves Filho - o “Antônio Caiçara” que, ao longo dos seus
65 anos, vem transformando sonhos em empreendimentos sólidos no Sertão
pernambucano. Durante todo esse tempo, Antônio e a sua abnegada equipe de quase
mil funcionários do Grupo Pajeú, há 47 anos no mercado, provam que trabalho,
tenacidade, honestidade e transparência têm de andar juntas nesses tempos de
crise e de incertezas.
Antônio,
nasceu na Fazenda Santana, em Caiçarinha da Penha(nome dado pelo Padre Jesus Garcia
Riaño), zona rural de Serra Talhada, em julho de 1951. A
família se completa com mais treze irmãos(cinco homens e oito mulheres) Sua
identidade é tanta com Caiçarinha que ele incorporou “Caiçara” ao nome. Os moradores mais velhos lembram daquele menino,
cujos pais - Antônio Alves da Silva e Vera Regalado - o tiravam das
brincadeiras na praça quando a luz(movida a diesel) se apagava por volta das 21
horas.
Se a
infância não era fácil, maior era o desejo de ser alguém na vida. Logo Antônio
mostrou herdar do pai o tino para o comércio e acompanhava o pai nas viagens e
no beneficiamento do caruá(planta de poucas folhas lineares que fornecem
longas fibras, de grande resistência e durabilidade) que era feito num terreno próximo de casa. Simultaneamente, fazia
economia ao juntar dinheiro em um mealheiro. Com oito anos, Antônio já
trabalhava com o pai em uma mercearia, num dos lados da praça de Caiçarinha.
Certa vez
comprou do próprio pai alguns sacos vazios utilizados na venda do algodão, e
começou a revendê-los aos produtores de cereais da região para que ensacassem
os produtos. Ainda em Caiçarinha, Antônio era visto com o pai na boleia do
caminhão que transportava algodão. Antônio viveu no povoado até os doze anos. A
mãe, a professora primária Vera(uma das primeiras mestras da área rural), via
com orgulho a desenvoltura do filho. Mas era preciso estudar e, aos dezesseis
anos, Antônio foi para Serra Talhada, onde se matriculou no Colégio São
Domingos Sávio.
Poucos anos
depois, a vocação para o comércio falou mais alto e Antônio pediu à mãe que
intercedesse junto ao pai para que comprasse um ponto comercial na cidade.
Primeiro se estabeleceu, ao lado do pai, trabalhando em mercearia localizada no
Beco do Rio, no acesso, do bairro da Cachichola. Tempos depois, em 1970, o pai
comprou um imóvel localizado na Rua Afrânio Godoy, no centro da cidade, onde
Antônio, em sociedade com o próprio pai, instalou um estabelecimento voltado
para a venda de cereais, quando surgiu a empresa Antônio Alves da Silva e
Filhos.
Em seguida,
passou a comercializar também estivas e, já em 1975, na mercearia capitaneada
por Antônio, destacava-se no comércio da região. Posteriormente, os irmãos João
e Abel ingressaram no negócio. Anos depois, o pai se retirou da empresa.
Em 1978, casou-se com Zélia Pereira de Sá Alves. Da união, nasceram os filhos -
Carlos Henrique(o Cacá), Marcos, Eduardo e Evelyn. Anos depois, Antônio decidiu
mudar o rumo de sua vida e buscou proporcionar melhor educação para os filhos,
mudando-se com toda família para o Recife.
Na capital,
bastou dar uma olhada na Ceasa, no Curado, para sentir que havia espaço para
atuar ali no segmento distribuição de atacados. O sucesso foi tanto que,
por vezes, vendia as mercadorias do caminhão direto ao cliente praticamente na
calçada devido ao fluxo e demanda. Logo o negócio se expandiu e se consolidou
como centro de distribuição de mercadorias em todo Estado. No Recife as pessoas
se referiam a Antônio como o “matuto do
Sertão que inovou no setor”.
Hoje, além
das quatro unidades do Grupo Pajéu em Serra Talhada - incluindo o moderno
Supermercado Pajeú com 186 funcionários, área de 4.500 metros quadrados, praça
de alimentação e estacionamento no subsolo - a empresa tem duas unidades no
Recife(na Ceasa/Curado) e também Araripina, Ouricuri, Salgueiro, São José do
Egito e Afogados da Ingazeira. O grupo tem também três estabelecimentos de
autosserviço em Petrolina. Vale lembrar que a Central de Distribuição e
Autosserviço, no bairro Cachoeira, tem 6 mil metros de área coberta.
Para
se ter uma ideia da simplicidade de Antônio Caiçara, durante a inauguração do
Autosserviço do Grupo Pajéu, em Afogados da Ingazeira, no ano passado, ele fez
questão de apresentar as pessoas responsáveis pela edificação do prédio, como o
serralheiro, o responsável pela parte de elétrica, de hidráulica, alvenaria e
demais, e ressaltou que a única coisa que não era do Pajeú na edificação foi a
estrutura que veio de fora. Na ocasião, falou ainda dos empregos que foram
criados para mais de 50 afogadenses e destacou o trabalho conjunto de toda a
sua equipe.
A devoção à Nossa Senhora da Penha
A fé é um
componente primordial na vida de Antônio Caiçara. A devoção à padroeira de
Serra Talhada - Nossa Senhora da Penha começou cedo quando ele ia às missas com
a mãe na Matriz da Penha, na Rua Joca Magalhães, no entorno da Praça Sérgio
Magalhães. Antônio também gostava de presenciar, ainda menino, a Festa de São
José, em Caiçarinha, sempre no 19 de Março, para homenagear São José, padroeiro do povoado. A festa, no
entorno da Praça tenente João Norberto Regalado(que era avô da mãe de Antônio),
tinha queima de fogos, brincadeiras e comidas típicas.
Com a mãe e
os irmãos, Antônio rezava com fervor a oração que diz: Ó Virgem da
Penha, Mãe nossa santíssima, que escolheste este lugar como trono da tua graça,
olha com misericórdia para este povo que te aclama sua Padroeira. Olha para o
teu povo que vive com tantas dificuldades e dá-nos coragem nas nossas lutas
para que sintamos tua presença de mãe carinhosa que aponta caminhos para nossa
libertação. Que tua bondade penetre cada dia em nosso coração para que possamos
crescer em amizade e destruir o que nos desune, em nossas famílias e em nossa
comunidade. Ajuda-nos a lutar com teu Filho Jesus para construir um mundo em
que todos sejamos irmãos e irmãs. Amém.
Fazenda Pitombeira e a indústria de derivados de milho
Na Fazenda
Pitombeira, nas imediações do distrito de Bernardo Vieira, numa área de 5 mil
hectares, o grupo produz derivados de milho, mantém abatedouro de frangos, além
de contar criatório de bovinos e caprinos. Na fazenda, 60 trabalhadores “tocam”
os serviços. O rebanho de bois é formado por 1.200 cabeças e o de caprinos por
1.500.
O abatedouro
trabalha com tecnologia de ponta e segue a norma regulatória do Ministério da
Agricultura. Lá são abatidas 2 mil aves por dia. No entorno da fazenda existem
12 aviários e em breve mais dois serão construídos, além de galpões de suporte.
Depois os derivados
seguem para indústria de farinha de milho, propriamente dita, localizada no
bairro São Sebastião, onde trabalham 30 pessoas atuando em modernos
equipamentos. Além da farinha de milho, a unidade produz flocão, xerém, cuscuz
pré-cozido e milho para mungunzá. Toda produção atende tanto atacadistas e
distribuidores do Nordeste quanto supermercados, mercadinhos e mercearias.
É
primordial ressaltar a postura aguerrida do Grupo Pajeú que, mesmo num cenário
de recessão econômica em que o Brasil atravessa, têm mantido aceso seu perfil
empreendedor, aquecendo a economia regional(e por que não dizer brasileira)
abrindo novos postos de trabalho, inaugurando unidades e além de tudo fazendo
que todo corpo funcional do grupo trabalhe em sintonia com a missão do empresário
Antônio Caiçara e demais diretorias que é “atender
com eficácia e transparência às necessidades de clientes e parceiros,
conquistando preferências, comercializando produtos de qualidade e imprimindo
em cada canto o registro da marca Pajeú”.
A casa-sede
da Fazenda Pitombeira, cercada por palmeiras imperiais, no passado pertenceu ao
Barão do Pajeú - Andrelino Pereira da Silva. Ao lado da casa-sede, chama
atenção a capela cujo altar é ornado com uma imagem de São José, tendo ao lado
uma estátua de Padre Cícero Romão. Nas paredes da capela placas mostram que,
alí, estão sepultados Joaquim Conrado e Sá(sogro de Antônio Caiçara), do filho
Jonas Pereira Neto e da avó de Jonas - Maria Benigna de Sá. Fala-se que esposa
de Joaquim - Maria do Socorro - também estaria sepultada na capela, mas não há
placa indicativa, nem evidências.
Premiações
Entre as
muitas premiações recebidas ao longo de mais de quarenta anos de atividades, o
Grupo Pajeú já conquistou o Prêmio Nacional da Abade(Associação Brasileira de
Atacadistas e Distribuidoras) como empresa referência em Pernambuco e também
Antônio Caiçara foi agraciado, em Serra Talhada com o troféu “Administrador
Nota 10” concedido pelos conselhos Regional e Federal de Administração e da Faculdade
Integrada do Sertão. Outra comenda importante recebida pelo empresário
sertanejo foi o “Prêmio de Inteligência Empresarial”, concedido pelo governo do
Estado, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, da AD-Diper,
Fecomércio, Fiepe, Faepe e Diário de Pernambuco. Outros prêmios: Prêmio
Expressão e Comunicação(concedido pelos Conselhos Federal, Estadual de
Administração e Uninassau).
Curiosidade
Um fato
interessante para encerrar essa breve história: o avô de Antônio Caiçara(por
parte de mãe) era o tenente João Norberto Regalado que foi prefeito de Gravatá
e também o primeiro prefeito de Chã Grande. Os mais velhos de Caiçarinha contam
que o tenente era inimigo político do então governador Agamenon Magalhães.
Então ocorreu que Dona Vera(mãe de Antônio Caiçara) pediu que o pai João Norberto pedisse um emprego para ela ao
governador. O pai disse: “Quando você for pedir emprego a Agamenon diga que
é filha de um inimigo político dele”. Os dias se passaram e quando Dona
Vera pediu o emprego ao governador repassou o recado do pai. Agamenon olhou e
respondeu: “Eu sou inimigo político de seu pai, mas antes de tudo sou amigo
dele”. Logo depois a professora Vera foi nomeada para ensinar no distrito
de Tauapiranga(ou São João do Barro Vermelho).
(Foto: Farol de Notícias/Giovanni Sá/ST).
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