Alzenira Freitas/Covid 19 e os dias silenciosos: Carecemos de paciência para as pequenas coisas e coragem para as grandes

Eu estava numa lanchonete, no Rio de Janeiro, em meados de fevereiro quando ouvi na TV sobre um certo vírus lá na China. Como sou ligeiramente hipocondríaca comecei a olhar para os turistas chineses com um certo aperto nos olhos. Voltei pra minha casa.
Hora de ir pro carnaval em Recife. Olhava passagem, tentava comprar, desistia, pensava, ouvia frevo, desistia, pensava, decidia ir, voltava atrás, enfim não fui. Deveria haver tanta gente de tantos lugares do mundo todo por lá, e eu me perguntava: e o vírus ?
Não fui pro carnaval em Recife . Vi desfile de escola de samba na TV, afinal eu já tinha brincado 50 carnavais e sou do grupo de risco.
Esta semana dando uma olhada no bloco de notas do celular eu vejo este textinho. Quase uma semana de isolamento. O vírus é uma idéia fixa também. As vezes cochilo e acordo com a sensação de que ainda estou num pesadelo. Eu só queria aquele mundo de volta, junto com um pedacinho de goiabada. Outro domingo e outro silêncio ensurdecedor.
Serão daqui pra frente todos os dias iguais? Quanto tempo levará isso? Quanto ainda ficaremos parados no tempo, vendo o tempo passar silenciosamente lá fora? Agora são 27 de março e são 92 mortos e 3.147 infectados. Aqui parei com texto. Agora, atualizando, caminhamos para os 30 mil mortos.
Os dias seguem silenciosos. A pandemia nos colocou dentro de casa e, o mais desafiador, nos colocou pra dentro de nós mesmos.
O que fazer agora? Aproveitarmos a autoridade do tempo recluso para fazermos algumas coisas que planejávamos fazer e não tínhamos tempo ou, quem sabe, não fazermos nada, se assim quisermos? Reconectarmo-nos com nossa essência, com nossa originalidade, com o verdadeiro centro do universo e com o divino. Nos remetermos ao momento em que fomos nos perdendo de nós mesmos dentro da loucura que levávamos, que embora nos déssemos conta dela não imaginávamos jamais que conseguíssemos viver sem ela.
Agora aqui estamos todos nós: sem a “loucura normal”. Aproveitemos este tempo de silêncio(e de silêncios) para, corajosamente, olharmos atenta e honestamente para nossas sombras a fim de reencontrarmos nossa face luminosa . Aproveitemos para contabilizar se o que temos pra SERMOS PERDOADOS não é maior que o que achamos que TEMOS QUE PERDOAR. Use seu bloco de notas.
Carecemos neste tempo: de paciência para as pequenas coisas, coragem para as grandes, amor ao próximo (que ficou tão próximo) e aos distantes (telefone para eles) e de um pedacinho de goiabada.
*Alzenira Freitas é psicóloga graduada pela Faculdade de Filosofia do Recife e, a partir desta segunda-feira(01.06), passará a colaborar regularmente para este site.
Espetacular!
ResponderExcluirMuito bom Alze! Gostei!
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